Hoje é um dia muito especial para nós, mas vou contextualizá-lo para vocês sentirem toda a emoção conosco!
Dia 19 de fevereiro minha filha Heloísa faria 4 anos aqui na Terra! Ela nasceu em silêncio – natimorta, nos termos médicos e jurídicos.
Se a assistência e o acolhimento em casos de perdas gestacionais e neonatais está engatinhando atualmente, há 4 anos estava ainda mais no início!
Lidar com a morte de um filho não é nada fácil, e lidar com um puerpério de colo vazio tem seus agravantes! Um deles é o que fazer com o leite que vai descer, com o bebê vivo ou morto.
Recebi na maternidade o remédio para secá-lo sem ao menos ser orientada sobre o processo e nem questionada se gostaria de fazê-lo ou não... e eu não tinha forças para questionar! Tomei o remédio, tive os seios enfaixados e fui para casa. Dois dias depois, meu leite empedrou e tive, por conta própria e com a ajuda da Cris, minha doula, que ir atrás do que fazer, tomei novamente a medicação!
Então, escrevi este relato que está na página 64 do livro "Como lidar luto perinatal" das queridas Heloísa Salgado e Carla Polido (onde aprendi que não havia impedimentos fisiológicos ou psicológicos para eu doar meu leite):
"Na quarta-feira à noite minha doula foi em casa e fez uma massagem no meu peito para sair o excesso de leite, não era uma ordenha. Nos outros dias, fiz sozinha. Com o efeito do remédio a dor foi passando e o seio, amolecendo. Para falar a verdade, eu queria que demorasse para secar... Queria me sentir “poderosa” pelo menos nisso! Olha só, quanto leite! E que dó ter de secá-lo! Será que não poderia doar? – é uma duvida que tenho até hoje.
Sempre lembro deste processo de secar o leite como uma das coisas mais difíceis que passei. E me pergunto muito: por que não colocaram este remédio na receita dos medicamentos que eu deveria tomar após a alta, ressaltando que eu deveria tomá-lo caso houvesse necessidade?"
Os anos foram passando, iniciamos as conversas com profissionais da saúde já atualizados no atendimento humanizado às perdas gestacionais e neonatais, trabalhando na implementação de boas práticas e sensibilizando. Um trabalho conjunto com as famílias do Grupo e Profissionais engajados na causa.
Até que em 2020, chega a Natália em nossas vidas! Ela, mãe da Elis, que partiu aos 30 minutos de vida, querendo também doar seu leite, recebeu a negativa do Banco de Leite de sua cidade. Ah...mas pensa que ela aceitou esse não tranquilamente? Não, não, não! A possibilidade de pesquisar na internet fez com que ela nos encontrasse, trocamos informações e energias positivas. Sua amiga e doula Alessandra a apoiou para entrar com uma ação junto ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais para conseguir efetivar a doação. Natália também acionou a ouvidoria da ANVISA, questionando sobre a Resolução que regulamenta o funcionamento dos bancos de leite. Além disso, entrou em contato com o João Aprígio, coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, que reconheceu se tratar de uma má interpretação da resolução, sobre mães de natimortos e neomortos não poderem doar o leite. Como resultado de toda essa mobilização, a Natália conseguiu doar o leite da Elis. Além disso, em março de 2020, a ANVISA publicou uma Nota Técnica, atestando que não existe proibição para que mães enlutadas doem o seu leite, desde que os critérios sanitários convencionais sejam respeitados. A partir daí, outros bancos, como a Maternidade Cândido Mariano em que a Jaqueline trabalha (veja nossa live sobre a doação de leite na Semana Transformação em nosso canal do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=6yAJXbIqKz0), começaram a dar a opção de doar ou secar o leite! E é isso que desejamos, que mediante informação e orientação sobre as opções, a mulher decida se quer ou não doar o seu leite, e que essa escolha seja respeitada!
E para ajudar neste processo de sensibilização, orientação e empoderamento de mães e profissionais (o conhecimento proporciona isso), lançamos hoje o nosso PRIMEIRO FOLDER INFORMATIVO!
Este é sobre a doação de leite, com 3 partes: uma destinada às mães, outra aos bancos de leite e por fim, aos profissionais das maternidades.
Agradeço muito à Natália, Aracelli, Luiz, Valmir e ao grupo Transformação que fizeram este projeto sair do papel!
Aqui está, aberto a toda a comunidade! OBS: Se quiser em pdf para uma melhor impressão, clique nos links abaixo:
Folheto doação de leite frente
Folheto doação de leite verso
Gratidão, não tenho palavras para mensurar a minha alegria!
Perla, co-fundadora do Grupo Transformação.